Não cansa de me impressionar a falta de qualidade no
atendimento público brasileiro. Surpreende-me enormemente quando sou bem
atendido em qualquer instituição diretamente ligada ao governo. Quando a
relação governamental é indireta, no caso de sociedades de economia mista como
o Banco do Brasil, por exemplo, o atendimento e o serviço prestados não
costumam ser de má qualidade.
Como exemplo prático, relato a experiência de hoje. Fui a
um posto de saúde próximo a minha casa para tomar uma simples vacina.
Comuniquei o que queria a primeira funcionária, a qual me mandou para um
segundo agente e este me encaminhou para um terceiro. Finalmente, retirei minha
senha e aguardei pela vacina. Depois de algum tempo esperando, ouço um casal
conversando sobre qual outro posto de saúde eles iriam para tomar a vacina de
febre amarela já que ali não tinha (por coincidência a minha também era aquela).
Perguntei ao casal quem havia dito que a vacina não estava disponível naquela
unidade e me apontaram o funcionário – o segundo pelo qual eu havia passado
que, a mim, não deu essa informação. Confirmei com um quarto funcionário e, de
fato, a vacina estava em falta.
Tratei de ir a outro posto de saúde. Ao chegar, o péssimo
atendimento já foi revelado de cara. Dirigi-me até o balcão onde estava a
funcionária para perguntar sobre a vacina; ela, com fones de ouvido (não os
retirou para se comunicar comigo) e quase de costas para a sua mesa de
atendimento de tão confortável que estava sobre sua cadeira reclinável,
respondeu-me gesticulando com as mãos mandando que eu seguisse e aguardasse na
porta a frente. Após algum tempo mais, tomei minha vacina. Dentro disso tudo,
nem comentei sobre a falta de educação mínima em retribuir o meu "boa
tarde". Mas isso já to acostumando em várias situações do cotidiano.
Logo em seguida contei essa situação a uma prima. A qual
também me relatou sua ruim experiência de ontem com o serviço público.
Também em posto de saúde, falou-me que, sentindo-se mal, chegou na unidade de
saúde às 17h50min. Na ocasião, havia três clínicos de plantão disponíveis. Mas
ela só foi atendida depois das 19h, por um clínico que havia chegado há alguns
minutos. Isso porque os de antes já estavam muito perto do horário da troca de
plantão para realizar novos atendimentos. O curioso é que essa troca de plantão
ocorre às 19h, ou seja, uma hora e dez minutos antes do horário eles já estavam
se organizando para a troca de turno.
Esses foram apenas dois exemplos que ocorreram hoje e ontem
e achei interessante relatar para exemplificar o péssimo atendimento público
que nós temos. Embora coisas muito piores aconteçam no serviço público, na
administração pública em geral, todos os dias.
Penso que um dos inúmeros motivos que explicam esse tipo de
má qualidade na prestação do serviço público é a estabilidade que o servidor
goza, geralmente adquirida após três anos de exercício no cargo. A quase
impossibilidade de ele ser demitido faz com que o “corpo mole” seja uma
constante em sua rotina profissional. Tanto é, como disse no início, que em
sociedades de economia mista, em que a estabilidade não é garantida por lei, a
qualidade do atendimento é mais próxima a das empresas privadas.
Para não apenas criticar o atendimento no serviço público e
parecer injusto, eu também já fui bem atendido. Há cerca de um ano, nos
Correios, empresa pública federal, busquei explicações relativas a uma
encomenda que já deveria ter chegado a minha casa há muitas semanas. A agente
pública me atendeu tão incrivelmente bem, procurando informações junto aos seus
papéis, ligando para outras unidades dos correios, explicando-me passo a passo
o ocorrido, que eu estranhei bastante. Gostei muito e agradeci ainda mais, saí
meio sem acreditar na disposição e na educação da funcionária. Portanto, posso
dizer que já presenciei um caso de efetiva qualidade no atendimento
público.